(…)
o vento bate com força nas janelas, as palmeiras agitam-se, roçam as paredes da casa, zunem.
folheio revistas, arrumo papéis, sinto-me terrivelmente cansado. bastaria meter-me na cama e logo cairia num sono profundo. mas não, não quero dormir. fumo, ouço os estalidos da madeira, a casa envelheceu sem que eu tenha dado por isso. e eu, terei envelhecido com ela?
acendo a lareira da sala, enrolo-me numa manta e deito-me no chão, enroscado, à beira do lume, como um cão…
(…)
passei o dia a arrumar objectos, a limpá-los do pó, a destinar-lhes novas habitações, novos usos, mas não realizei nenhum sonho.
houve muito vento e pouco sol. o vento provoca-me, sempre, um desequilíbrio mental. fico com vontade de rastejar, de caminhar roçando paredes e esgravatar na cal e na terra, abrir a boca e sufocar com excesso de ar. o vento é um fenómeno metereológico desencadeado pela minha súbita vontade de morrer e viver simultaneamente. é interior o vento de que falo, comunica com os inúmeros suícidios de meu corpo. fico atemorizado com meus próprios gestos, assustam-me os olhares dos outros.
espero o fim do dia, o crepúsculo que me acalma como um vinho. a noite próxima faz-me voltar ao espaço da pele. sinto-me melhor no escuro, menos angustiado.
de resto, mais nada. olho para os objectos arrumados e não consigo lembrar-me para que servem.
tento escrever um verso.
tenho vontade de sair por aí, vaguear pelas ruas, mas vou ficar aqui, fechado na casa sitiada pela noite, perdida algures onde a não posso sequer inventar.
meio deitado, imagino o mar ao fundo das ruas, os barcos como fantasmas adormecidos no areal, finjo que não posso mexer-me.
escrevo ou desato a gritar, tanto faz.
Al Berto
“Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…”
lembras deste post? :)
e vamos lá a ver se isto aceita desta forma.. *
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Lembro, lembro.. :p
eu tenho boa memória até =)
ficou bonito bonito e eu vou copiá-lo para aqui amanhã ahah ^_^
beijocas*
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