Tragédias

É frequente desencadearem-se as verdadeiras tragédias da vida de uma maneira tão pouco artística que nos magoam com a sua crua violência, a sua tremenda incoerência, carecendo absolutamente de sentido, sem o mínimo estilo. Afectam-nos do mesmo modo que a vulgaridade. Causam-nos uma impressão de pura força bruta contra a qual nos revoltamos. Por vezes, porém, cruzamo-nos nas nossas vidas com uma tragédia repassada de elementos de beleza artística. Se esses elementos estéticos são autênticos, todo o episódio apela à nossa apreciação do efeito dramático. De repente deixamos de ser actores e passamos a espectadores da peça. Ou antes, somos ambas as coisas. Observamo-nos, e todo o encanto do espectáculo nos arrebata.

Oscar Wilde, in O Retrato de Dorian Gray

5 thoughts on “Tragédias

  1. …é por isso que acho que por vezes a tragédia se torna tão confortável.

    (existem tantos I’s que começo a pensar que ser I hoje em dia é a predefinição do ser humano)

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  2. Exactamente… É ir contra a corrente, e ás vezes torna-se tão frustrante que acabamos por nos calar, acenar com a cabeça e seguir caminho… E pronto, já nos juntámos a eles.

    Ás vezes tenho medo que isto seja apenas uma cena de ser jovem e quando tiver uns 30 anos já achar que eram ideias parvas e que não existem I’s nenhuns… Ou pelo menos tenho medo de estar certo agora e daqui a 10 anos estar tão inserido no meio dos I’s que já nem ligo a isso… Oh well, mas se calhar é isso que é suposto acontecer.
    Vou viver para o Tibete quando fizer 30 anos -.- tenho dito.

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  3. A sério?! Okay, acreditas que estou para fazer o mesmo? Ainda estas férias tive para ir fazer voluntariado para o hospital de Santa Maria, para depois ser mais fácil ir para fora do país… Não sei, sentir-me útil, fazer algo de que gosto… Gostava mesmo imenso… Mas depois acabei por não ter tempo nestas férias, e agora vou começar um curso e afins… Mas talvez quando o acabar, daqui a um ano e meio… E isso do Tibete é meio a sério e meio a brincar, porque um dos meus maiores sonhos é mesmo um dia viajar para bem longe e só avisar toda a gente quando já estiver a caminho.

    É bom ver (finalmente) mais alguém que quer fugir aos I’s que povoam este sítio (e as sociedades ocidentais no geral) e ganhar uma perspectiva diferente do mundo, ajudando… :)

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  4. Claro que quero! :) Também já tinha pensado no mesmo, que o mais complicado seria ir daqui sozinho, ainda para mais sendo eu bastante introvertido :P e infelizmente (até agora) ainda não tinha conhecido ninguém que tivesse a ideia de fazer o mesmo…

    E acho exactamente o mesmo, é uma excelente maneira de provarmos que conseguimos manter o comodismo afastado e não tomarmos tudo como garantido… Para além do sentimento de realização pessoal por estarmos realmente a fazer algo que faz a diferença dever ser fantástico, a oportunidade de nos pormos à prova é também grande desafio :)

    Uma das formas de nos juntarmos a uma organização de voluntariado é começarmos por trabalho em hospitais, pois depois as hipóteses de ir para fora do país tornam-se maiores, ou então através de organizações mesmo, a única que conheço em Portugal até agora é a Humana…

    http://www.humana-portugal.org/TextPage.asp?MenuItemID=51&SubMenuItemID=109

    Mas realmente seria uma oportunidade de sonho, fugir a isto tudo e ir fazer algo de realmente útil…

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  5. Aww, compreendo-te perfeitamente :) a ideia de ir para fora e de ajudar alguém é a única coisa que me tira do estado apático… Não há melhor que saber que consegui ajudar alguém, seja no que for…

    E acredito que seja mesmo complicado… Por acaso pensava nisso muitas vezes, por mais que goste de estar sozinho e aventurar-me em sítios que não conheço sozinho, uma coisa dessa magnitude seria completamente diferente… :P so assim pronto, já tenho companhia! Deal? xD

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